Akira obra criada, desenhada, e dirigida pelo gênio Katsuhiro Otomo conta a historia de um mundo cyberpunk futurista (ou nem tão futurista assim) onde após uma explosão nuclear uma nova Tokyo é criada, na historia vemos o desenrolar da trama na visão de dois adolescentes Kaneda e Tesuo que após uma briga de gangues acabam se intrometendo em uma briga politica, e sobrenatural.
O mangá de Akira fez muito sucesso no Japão lhe rendendo um anime em 1988 anime este que se tornou um clássico tanto do gênero quanto do cinema, o anime inovou o estilo de produção e animação, sendo referenciado até hoje por várias obras. Tanto o mangá e o anime se passam em 2019 exatamente o ano desse artigo, pensando nisso vamos focar em um pequeno detalhe dessa historia, Akira é uma obra muito complexa, então é recomendável que você leia e assista tanto o mangá quanto o anime.
Na segunda guerra mundial, os Estados Unidos jogou duas bombas nucleares no japão em Hiroshima e Nagasaki, fato esse que até hoje é lembrando pelos japonês, algo tão traumatizante que muitas obras foram feitas após essa tragédia, Akira não foge disso, na historia vemos uma futuro em que após uma terceira guerra mundial e uma forte explosão, uma cidade se reergue da cinzas a Neo Tokyo, diferente da Hiroshima e Nagasaki que se reconstruíram e ficaram belas, a Neo Tokyo está completamente abalada, gangues de motos, violência, prostituição e corrupção são alguns dos retalhos que constroem a cidade, nela vemos a degradação daquele povo que busca um sentido para se reerguer.
Esse texto foca principalmente nas consequências de Akira e sua simbologia ao mundo real. No inicio do filme vemos uma explosão causada pelo personagem que carrega o nome do filme, uma explosão que se parece muito familiar com uma bomba nuclear, é inegável a referencia de Katsuhiro a esse fato, 30 anos depois vemos uma politica de pesquisa e prevenção a futuras ameaças, o personagem do Coronel é um exemplo disso, ele viveu a época da explosão sabe o quão destrutivo foi e tenta de todas as formas impedir que uma nova tragédia como aquela se repita, porém no desenrolar da trama vemos que muitos nem acreditam mais que existe um correlação entre a explosão e o Akira, diminuindo o investimento na pesquisa para além de defender seus negócios políticos e econômicos, também por duvidar de que uma ameaça nova seja capaz de fazer o mesmo o ato.
E é aí que o Tetsuo entra na historia, após ser afetado por um dos experimentos (outra critica do Katsuhiro, mas essa deixarei para outro texto) acaba ganhando (ou sendo amaldiçoado) poderes similares ao de Akira, pesadelos com o Akira são comuns e junto com sua infância conturbada acaba trazendo um ser violento e imparável repetindo novamente a mesma tragédia de anos atrás.
Em relatos de sobreviventes das duas bombas nucleares, narram a explosão de maneira muito similar ao anime, o Katshuhiro quis mostrar que não devemos esquecer-nos de tragédias do nosso passado, nem simplesmente ignora. A bomba mesmo ocorrendo há 70 anos mostrou a capacidade destrutiva do ser humano e em um mundo altamente tecnológico que pode evoluir muito mais, é apenas questão de tempo até esquecermos a destruição e as mortes causadas pela bomba, o que Akira faz é um excelente trabalho de nos mostrar que nós somos construídos pelo nosso passado.
É notável isso por outro grande nome das animações japonesas, em uma recente entrevista aos blogs Hachima Kikou e Yaraon, Hayao Miyazaki comentou que odeia obras ocidentais, tanto obras, quanto empresas e etc, mas um fato curioso da entrevista é essa:
“… Eu detesto os EUA que lançaram uma bomba nuclear e não se arrependem…”.
Miyazaki demonstra o fato de a maioria da população ocidental esquecer seus feitos do passado, não que o Japão seja bonzinho da historia, mas é interessante perceber que o passado é visto de maneiras diferentes entre os dois países. A entrevista você pode ver aqui
Mas isso só vale para o Japão? Não! Se em sua revolução, Akira influenciou todo um ocidente e até mesmo o Brasil exibindo pela primeira vez um anime no cinema, Akira também passa a mensagem para o mundo, o Akira não necessariamente é a bomba nuclear, mas também é algumas tragédias como o rompimento da barragem de Mariana e o massacre de Realengo, tragedias que por sua vez mostram o quanto nos esquecemos do passado e repetimos o erro novamente no futuro em Brumadinho e Suzano respectivamente. É o reflexo de um povo que se esqueceu da sua historia e encarou um novo inimigo que consegue ser tão brutal como o antigo.
Novos Tesuo irão reaparecer, novos Hiroshima e Nagasaki irão reaparecer, novos Brumadinho e Suzano irão reaparecer, e cabe a nós sermos capazes de aprendermos com os erros e estarmos preparados para encarar essas novas ameaças. Nossos feitos e nossas historias são as marcas que deixamos para o mundo, o futuro pode parecer promissor, mas o passado sempre será sábio e sempre terá algo para nos ensinar.
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